Impacto das Dificuldades Financeiras no Investimento
Chegados ao mercado, ao tempo em que as transferências e os movimentos do mesmo fazem vibrar adeptos como se um golo se tratasse, parece-me uma boa altura para falarmos um pouco sobre a forma como um cenário de dificuldade financeira influencia o investimento de um clube.
Colocando o caso do nosso clube em cima da mesa, porque é sobre ele que vamos conversar, o Vitória estará sujeito nos próximos anos, fruto do estado das suas contas (um acumular de passivo – dividas – exorbitante e um reduzir de receitas expectáveis, através de múltiplos adiantamentos) sujeito a fazer cortes a nível de despesa naquilo que é a sua operação como um todo e não apenas no futebol.
Posto isto, muitos assumem desde logo que isso se traduz imediatamente numa incapacidade total de investimento, normalmente traduzida em não pagar pela contratação de atletas e na venda de outros que se encontram no plantel.
Como é óbvio numa óptica de contenção e corte da despesa, o orçamento não estica e por isso torna-se praticamente impossível contratar contentores de jogadores, como se faz em períodos estáveis, ou entrar em loucuras desmedidas por qualquer atleta, quanto mais vários atletas. Mas isso não significa que não possa haver investimento, ou melhor, que o clube não possa contratar um jogador, pagando pela sua transferência, ou segurar um atleta que se encontra nos seus quadros, ainda que o seu salário possa ultrapassar um determinado tecto salarial...
E é aqui que começa a entrar um conceito económico, complicadamente simples, com o qual nos deparamos todos os dias em todas as decisões que tomamos na nossa vida, mesmo sem darmos conta dele. O custo de oportunidade.
Pois o que não é possível é ter o melhor de todos os mundos e como tal se optamos por investir na contratação e transferência de jogadores, não podemos alocar ao mesmo tempo a capacidade para a manutenção de outros atletas. E este é um equilíbrio muito complicado de encontrar. Que obriga a muitas contas e decisões de quem tem a responsabilidade de decidir.
Mas falemos de casos práticos para que seja mais perceptível a questão. Contratar 2/3 atletas para uma posição, terá sempre custos, entre salários, prémios de assinaturas e valor da transferência (caso o atleta tenha contrato com outro clube). Imaginemos por isso que estes 3 atletas no seu conjunto custariam aos cofres do clube 750 mil€.
Contudo o clube tem dentro de portas um atleta, da mesma posição, que apesar do seu salário ser elevado apenas lhe custa 500 mil€. Ou seja, o custo de oportunidade do clube é saber que segurando o atleta que ganha 500 mil€, não poderá contratar os outros 3 atletas por muito bons que eles sejam, tendo, contudo, o benefício de segurar um jogador que já provou ser útil e dessa forma representa um menor risco de investimento.
Caso a opção passe pelos outros 3 atletas, o clube fica com mais opções para essa determinada posição, mas corre o risco de os atletas não corresponderem e tem de abdicar do atleta que tinha contrato.
Na vida real, na gestão de um clube ou de um orçamento familiar (nas nossas vidas diárias), o custo de oportunidade nunca se apresenta assim de forma tão simples e tem bastantes maiores complexidades ainda que não demos por conta delas.
Mas a ideia base assenta sempre no mesmo princípio. Se eu tenho 10 para gastar ao optar por gastar em determinadas coisas ou ter de deixar de gastar em outras, pois os 10 não se podem fazer em 20. E como é óbvio eu se só tenho 10 para gastar, não posso gastar de forma tão relaxada e com menos custos de oportunidade do que quem tem esses 20.
Convém por isso todos os adeptos ficarem com isto em mente, pois parece-me que é algo que, sendo recorrente, irá sobressair sobretudo neste mercado do Vitória Sport Clube.
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